Ou isto ou aquilo
O dono da usina, entrevistado,
explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o
consumo não dá pra absorver a produção intensiva:
– Uma calamidade. Imagine o senhor
que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está
coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite.
Estão jogando leite no rio porque não têm mais onde jogar. Os bueiros estão
entupidos. A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber
toda essa leitalhada ou comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e
coisinhas.
– Insuficiente? Parece que a produção
de crianças ainda é maior que a produção de leite.
– Numericamente sim, mas não têm
capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada
feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda
bem que se joga leite fora, em vez de jogar os garotos.
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Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) – Contos Plausíveis (com 150 ilustrações de Márcia e Irene), José Olympio Editora, 2ª edição, 1985, Rio de Janeiro – RJ.
Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) – Contos Plausíveis (com 150 ilustrações de Márcia e Irene), José Olympio Editora, 2ª edição, 1985, Rio de Janeiro – RJ.
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